Mestre Bimba

Manuel dos Reis Machado

Mestre BimbaManuel dos Reis Machado, mais conhecido como Mestre Bimba, nasceu em 23 de novembro de 1900, na cidade de Salvador, Bahia. Filho de Maria Martinha do Bonfim e do famoso lutador de Batuque, Luiz Cândido Machado, não é de se surpreender que Bimba (como era chamado pela família) crescesse para se tornar um grande lutador.
Com 12 anos de idade Mestre Bimba começou a aprender a capoeira com um africano chamado Bentinho, estivador que trabalhava para a Companhia Baiana de Navegação. Mestre Bimba tornou-se um mestre na arte de tocar o Berimbau, um grande cantador e lutador, mesmo sendo a capoeira uma atividade ainda proibida naquela época. Após treinar por alguns anos com Bentinho, Mestre Bimba começou a dar aulas.
Frustrado com a forma limitada com que muitos capoeiristas percebiam e tratavam a capoeira, sua falta de respeito pela arte e seu valor enquanto cultura afro-brasileira, ele decidiu unir as habilidades de capoeirista e de lutador, aprendidas com seu pai, para desenvolver a Capoeira Regional, um jogo mais rápido, onde técnica e estratégia eram elementos-chave. Junto com seu novo estilo, Mestre Bimba procurou também mudar a imagem ruim do capoeirista na sociedade da época e estabeleceu um novo padrão para a arte.
O novo estilo de capoeira ganhou popularidade a despeito da descrença de outros Mestres, que viam nesse novo estilo uma ameaça à essência da capoeira tradicional. Mestre Bimba foi desafiado por lutadores de outras modalidades que duvidavam da eficiência do novo estilo de capoeira como arte marcial. Em 1936, Mestre Bimba desafiou, através de uma nota no jornal, qualquer lutador, de qualquer arte, a lutar com ele. Mestre Bimba ganhou de todos os oponentes.
Para organizar um método de ensino e legitimar a capoeira como uma forma de defesa pessoal e esporte, Mestre Bimba precisou de mais do que suas habilidades de lutador. Mestre Bimba também possuía grande habilidade administrativa e organizacional.
Muitos políticos e figuras da alta classe começaram a praticar capoeira com Mestre Bimba. Ele foi o primeiro a realizar uma apresentação de capoeira, como uma forma de expressão da cultura brasileira, para empresários estrangeiros, a convite do então Governador do Estado da Bahia, General Juracy Magalhães. Mestre Bimba ganhou a admiração do Governador e, mais tarde, foi convidado a se apresentar para o então Presidente da República, Getúlio Vargas.
Esta apresentação foi fundamental para a evolução histórica da capoeira e da herança cultural africana no Brasil. Vargas legalizou a prática da capoeira e o Ministério da Educação a reconheceu como esporte nacional nos anos 30. Em 1932, Mestre Bimba abriu sua primeira academia de capoeira, no Engenho de Brotas, em Salvador – Bahia. Em 1937, ele ganhou, da Secretaria de Educação, o título de professor de educação física e começou a ensinar capoeira para o exército e a polícia No Estado da Bahia. Dez anos depois, em 1942, Mestre Bimba abiu sua segunda academia de Capoeira Regional, na Bahia.
Em sua luta para acabar com a imagem negativa da capoeira, Mestre Bimba mantinha regras rígidas em sua academia, que deviam ser cumpridas para que o aluno pudesse treinar ali. Os alunos de Bimba tinham que usar um uniforme branco, mostrar um bom rendimento escolar, quando estudantes, boa conduta na rua, entre outras exigências. Como resultado disso, muitos médicos, advogados, políticos, e membros da alta classe freqüentavam sua academia, apoiando Mestre Bimba em sua busca por melhorar a imagem do capoeirista na sociedade.
O Centro de Cultura Física Regional, como era chamada a academia de Mestre Bimba, era conhecido não apenas como uma escola de capoeira Regional, mas também como um centro de cultura, onde a capoeira era ensinada como uma expressão cultural da herança africana e como uma possível profissão para muitos. Na academia eram expostas fotos e reportagens que mostravam a história e evolução da capoeira ao longo dos anos. Ele era muito rigoroso em relação à técnica e avaliação dos alunos e implementou um sistema administrativo que incluía registro de aulas, folhetos, mural de mensagens, itinerário de shows, práticas não comuns entre os professores de capoeira.
Mestre Bimba e seus alunos (muitos deles conhecidos mundialmente como Grão Mestre Camisa Roxa e Mestre Camisa – fundadores da Abadá-capoeira) apresentaram-se por todo o país, organizando rodas e cursos, com o intuito de aproximar o povo e a capoeira.
Apesar de sua educação formal limitada, Mestre Bimba negociava muito bem com agências de turismo, jornais e outros empresários, para promover eventos e tornar a capoeira conhecida. A academia de Mestre Bimba tornou-se um modelo a ser seguido. Mestre Bimba gravou dois álbuns de músicas, incluindo o Curso de Capoeira Regional do Mestre Bimba, que pode ser encontrado ainda hoje.
Mesmo com o reconhecimento governamental da capoeira e os esforços de Mestre Bimba, a capoeira continuava sendo tratada como uma atividade de vagabundos e marginais. A capoeira não atingiu o prestígio e o reconhecimento que Mestre Bimba esperava após anos de dedicação. Triste e desapontado, Mestre Bimba mudou-se para Goiânia em 1973, a convite de um aluno que lhe prometeu o reconhecimento que a capoeira não alcançou na Bahia. Entretanto isso também não aconteceu em Goiás e Mestre Bimba morreu, após um derrame, em 05 de fevereiro de 1974. Anos mais tarde, seus restos mortais foram trazidos de volta a sua terra natal, a Bahia. Após a morte de Mestre Bimba, seu filho, Mestre Nenel (Manoel Nascimento Machado) assumiu a academia do pai. Mestre Nenel é ainda o responsável pelo legado do pai e presidente da Escola de Capoeira Filhos de Bimba, em Salvador – Bahia.
Atualmente, Mestre Bimba é reconhecido como um revolucionário, por sua luta para legitimar a capoeira como um esporte e uma valiosa expressão da herança cultural africana no Brasil. Para capoeiristas em todo o mundo, Mestre Bimba é sinônimo de inovação, perseverança e determinação.

 
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